Jovens não são descompromissados, você é que não sabe reter

Você acha que uma mesa de pingue-pongue, uma chopeira artesanal e pizzas às sextas vão reter jovens talentos?

Resposta: não vão.

Nossa sociedade agora está ridicularizando os empregadores que pensam que comprar camisetas, garrafas de água e mesas de pingue-pongue para os funcionários também pode comprar sua lealdade”

…explicou Gorick Ng, consultor de carreira de Harvard e autor do livro “The Unspoken Rules” (As Regras Não Ditas), best-seller sobre a Geração Z no trabalho.”

Ambientes descontraídos e mesas de jogos são legais? Sim, são. Mas se você quer que sua empresa seja atrativa de verdade, precisa entender as necessidades da Geração Z e oferecer benefícios significativos para eles.

Sim, a Geração Z é exigente.

E, sim, você precisa atender a essas exigências se quiser jovens talentos trabalhando de forma comprometida na sua empresa.

E eu vou explicar o motivo.

A Geração Z é descompromissada e instável?

Eu já ouvi a frase “jovem não está nem aí com nada” várias vezes, em diferentes contextos.

Se observarmos alguns dados, essa impressão pode até ser reforçada. De acordo com informações coletadas em 2020 pelo Ministério do Trabalho e Previdência, quase um quarto das pessoas de 18 a 24 anos permanecem em uma empresa por menos de três meses.

Mas será que essa instabilidade é sinal de descompromisso ou apenas uma forma diferente de enxergar o mundo?

A geração dos pais e avós desses jovens entendiam como sucesso:

• A permanência por anos em uma empresa.
• A evolução de cargos dentro da organização.
• Boas compensações financeiras.

Atualmente, os jovens entendem o sucesso como algo diferente.

Um trecho de uma reportagem da Forbes, menciona que, um dia, os jovens discutiram sobre o trabalho dos seus sonhos. Mas, hoje, eles provavelmente dirão que não sonham com o trabalho. E algumas pesquisas embasam esse argumento:

• Os levantamentos do consultor de carreira Gorick Ng, que eu mencionei anteriormente, mostram que menos de 2% da Geração Z tem a ambição de subir na pirâmide corporativa.
• Uma pesquisa do Snapchat destaca que 83% das pessoas dessa geração estão buscando e priorizando ações que valorizem o bem coletivo.
• Um artigo do site Consumidor Moderno revela que os jovens têm tendência a buscar produtos de marcas que possuem ética, sustentabilidade e transparência e esperam um posicionamento mais proativo das marcas, sendo que 48% acreditam que elas precisam guiar uma mudança (isso não fundamenta apenas o consumo, mas norteia também a busca por empregos).

Saúde mental x mercado de trabalho

E o que teria causado essa mudança no entendimento sobre o que é sucesso para os jovens?

Observemos mais uma fala de Gorick Ng sobre a Geração Z: “há uma verdadeira inquietação em questionar por que as coisas são como são”.

Se pararmos para analisar, isso faz sentido. Porque as coisas, como são, não estão boas para os jovens.

Dados dos estudos A Equação da Geração Z e Atlas das Juventudes - Evidências para a transformação das juventudes mostram que:

• Os jovens dessa geração nunca estiveram tão suscetíveis à depressão, à ansiedade e ao suicídio.
• No Brasil, 67% das mulheres jovens e 50% dos homens jovens relataram sentir ansiedade de forma negativa.
• Aproximadamente 21 a 28% dos adolescentes experimentam um episódio de depressão grave até os 19 anos de idade.
• Para cada jovem que comete suicídio, pode haver de 100 a 200 tentativas de suicídio.

Siga comigo a linha de raciocínio que eu construí: os jovens nasceram conectados, viram crises e desastres mundiais, estão cheios de problemas psicológicos e cresceram vendo os pais trabalhando a vida inteira em empresas que não davam a mínima pra eles. Então, faz sentido para mim que essa geração, que quer fazer diferente, busque propósito e bem-estar.

Some a isso o fato de a Geração Z ser inovadora por natureza e gostar de solucionar problemas complexos. O estudo A Equação da Geração Z afirma, inclusive, que essa é a geração mais empreendedora que já existiu.

Pensando em tudo isso, podemos concluir que os jovens são leais à sua própria qualidade de vida e propósitos, não a empresas que não estão nem aí com eles e com o mundo.

Como atrair a Geração Z e garantir o comprometimento desses jovens com uma empresa?

Comece pelo básico: sua empresa precisa entregar uma proposta de valor que faça com que os jovens se sintam motivados, com propósito e autonomia. Mostre que sua empresa está disposta a lutar por mudanças reais em prol do bem coletivo, sustentabilidade e inclusão.

E como fazer isso? Bom, não existe técnica milagrosa.

Mas observe essa fala de Gorick Ng sobre a Geração Z: “Nossa sociedade agora está ridicularizando os empregadores que pensam que comprar camisetas, garrafas de água e mesas de pingue-pongue para os funcionários também pode comprar sua lealdade”

Para ele, as principais ações que os líderes podem tomar para atrair e reter jovens talentos tem a ver com ouvir e entender essas pessoas.

A partir daí, se atente a dois pontos:

1. Para criar sua proposta de valor para a Geração Z, tenha como premissa a inteligência coletiva. Não faça sozinho. Ouça seus colaboradores. Ouça os jovens. Crie junto com eles. Experimente a inovação que eles propõem.
2. Depois de criada, sua proposta de valor precisa ser divulgada. Para que ela atinja seu público-alvo, você precisa entender como se comunicar com ele. Por exemplo: a Corteva México é uma empresa que precisou entender como divulgar para os jovens as vagas abertas em seu programa de estágio. Juntos, nós criamos uma campanha de divulgação das vagas com foco no TikTok.

Então, em resumo: não busque fórmulas mágicas pra atrair e reter jovens talentos. Converse com as pessoas ao seu redor, consulte especialistas e crie um modelo que funciona para a sua empresa e para a realidade dos seus colaboradores.

E não faça disso só uma teoria bonita. Os jovens querem ver (e fazer) as coisas funcionarem na prática!