Alguns anos atrás, quando eu era uma redatora publicitária inserida há pouco tempo no universo do marketing, o dono da empresa na qual eu trabalhava entrou na minha sala, parou ao lado da minha mesa e me disse: “precisamos trabalhar o employer branding da empresa”.
Eu sorri e respondi: “claro, deixa comigo”.
Para minha sorte, ele logo saiu da sala e não quis prolongar a conversa. Quando ele foi embora, meu sorriso sumiu. Eu nunca tinha ouvido falar em employer branding e fiquei nervosa com a tarefa.
Mas decidi não entrar em pânico e comecei pelo básico: abri o Google, pesquisei o que era aquilo e li alguns artigos sobre o tema. Eu não virei especialista em dez minutos, mas pelo menos eu entendi o que era employer branding
E eu ri.
Mas eu não ri de alegria. Eu ri de desespero. Porque a situação era a seguinte: os salários dos cerca de 30 funcionários atrasavam quase todo mês. O vale-refeição realmente atrasava todo mês. As lideranças eram machistas e homofóbicas. A rotatividade de pessoas era altíssima. A chefia não dava a mínima para os funcionários.
Eu cheguei a chorar antes de ir trabalhar porque sabia que o ambiente que me aguardava era terrível.
E, mesmo com tudo isso acontecendo, o dono da empresa acreditava que fazer employer branding ia ser ótimo para a empresa. Ele realmente achava que era só escrever umas coisas bonitas no LinkedIn e todo mundo ia pensar que trabalhar lá era a melhor coisa do mundo.
Alguns meses depois eu sai daquela empresa. E, hoje, eu trabalho com a criação de estratégias de employer branding e estudo muito sobre o tema.
Eu decidi desenterrar essa história porque percebi que muitos empresários podem cometer um erro semelhante ao dono daquela empresa: por mal saberem o que é employer branding, podem achar que fazer o mínimo já será um atrativo sensacional para trabalhar ali.
Você precisa fazer o básico bem feito na sua empresa? Sim. Mas, para atrair e reter colaboradores engajados, é preciso ir além.
Vamos por partes.
O que é o mínimo
Employer branding (em português: marca empregadora) é uma estratégia que tem como objetivo a construção e/ou aperfeiçoamento de uma imagem positiva da empresa para os colaboradores (atuais e em potencial). A estratégia envolve várias ações para atrair e reter os melhores talentos.
Mas não dá para criar uma marca empregadora forte se você não fizer nem o básico bem feito.
As obrigações do empregador são baseadas, principalmente, no Decreto Lei N.º 5.452 de 1º de maio de 1943. As principais para o modelo CLT são:
- Assinar o registro do colaborador na carteira de trabalho.
- Pagar o salário em dia.
- Pagar os encargos trabalhistas, como FGTS e INSS.
- Pagar o 13º salário.
- Oferecer vale-transporte em caso de trabalho presencial.
- Garantir pausa para refeição diária.
- Garantir descanso semanal remunerado.
- Garantir higiene e segurança no local de trabalho presencial.
- Garantir o gozo de férias.
Em um artigo do Jusbrasil o autor, Gilberto Henrique Buza da Cunha, destaca que também é preciso respeitar o empregado e não fazer “tratamento com rigor excessivo ou a prática de atos lesivos à honra ou boa fama”.
Ou seja: se você faz todas essas coisas, parabéns. Você faz o mínimo.
Agora, vamos entender o que de fato são ações da marca empregadora.
O que é employer branding
Pense nas ações da marca empregadora como uma espécie de marketing. Mas o seu objetivo, nesse caso, não é atrair e fidelizar clientes e sim pessoas colaboradoras para sua empresa.
Importante destacar que sua empresa não pode apenas parecer legal. Se a sua propaganda for “enganosa”, pode ser um tiro no pé.
É preciso que sua empresa cumpra as expectativas que gerar nos colaboradores (atuais e futuros).
Aliás, quando você cria uma marca empregadora forte, as pessoas desejam trabalhar na sua empresa. E, quando conseguem a vaga, tendem a ser muito comprometidas.
Para criar uma boa marca empregadora, além de fazer o básico, é preciso criar estratégias baseadas em algumas ações. Listei algumas das mais indicadas e eficazes abaixo.
Crie uma cultura organizacional forte
Isso é a base da sua marca empregadora. Uma cultura organizacional com valores bem definidos e colocada em prática tem o poder de criar um ambiente de trabalho positivo, saudável e estimulante.
Defina uma Proposta de Valor ao Empregado (EVP)
Seja claro quanto ao que sua empresa oferece aos colaboradores. Destaque benefícios e plano de carreira. Ofereça cursos, treinamentos e incentive a evolução constante de cada profissional.
Crie uma tradição de feedbacks
Dar feedbacks positivos motiva e engaja os colaboradores. Dar feedbacks negativos do jeito certo dá a oportunidade para os colaboradores entenderem o que precisam melhorar para atingirem o próximo degrau do plano de carreira, terem melhores remunerações, etc.
Promova a diversidade e inclusão
Criar um ambiente de trabalho diverso e inclusivo, com oportunidades iguais para todos os colaboradores, proporciona a atração e retenção de talentos incríveis.
Crie ações de comunicação interna
Ser transparente com os seus colaboradores faz eles confiarem na sua empresa. Por isso, crie estratégias para divulgação de informações, valores, cultura e objetivos da empresa.
Comunique tudo isso em processos seletivos
Não adianta sua empresa ser o melhor lugar do mundo para se trabalhar se ninguém fora dela sabe disso. Por isso, ao fazer processos seletivos, comunique de forma criativa sobre a sua marca empregadora. Vou deixar alguns exemplos abaixo.
Casos de sucesso para te inspirar
Criar uma marca empregadora forte pode levar tempo. Apenas uma ação não basta. Mas é possível chegar lá.
Para te inspirar, eu trouxe alguns exemplos de ótimas estratégias adotadas por empresas.
Eu ouvi dezenas de vezes que o Google é o melhor lugar do mundo para se trabalhar. Esse é o poder de uma marca empregadora forte. As principais ações da empresa nesse sentido são a valorização da experiência dos colaboradores, ambiente de trabalho dinâmico (com liberação de entrada de pets e salas de descompressão) e incentivos à criatividade.
Netflix
A empresa tem uma página de carreiras bem estruturada. Não serve apenas para divulgar vagas, mas comunica também a missão e os valores da empresa, ressaltando a importância de um bom espaço de trabalho. Além disso, as descrições das vagas abertas são bem detalhadas e incluem a visão de cada equipe, localização, entre outros.
RiHappy
Aqui o destaque vai para uma ação específica: a empresa criou um projeto para contratar apenas mães. De acordo com o site da empresa Taqe, envolvida no projeto, a ação foi motivada para facilitar a reintegração das mães no mercado de trabalho. Um artigo do site destaca que “a diretora da RiHappy Baby, Elisabete Strina, afirma que as mães entendem como ninguém a realidade desses clientes e, por isso, são as pessoas ideais para integrar a empresa, ajudando outras mulheres com dicas de maternidade e sugerindo opções de produtos, enxoval e chá de bebê”.
Vivara
A empresa tem como missão criar momentos únicos e especiais e transmitiu isso em um processo seletivo para estagiários. Junto com a Jogajunto, a empresa lançou um hotsite especial para divulgação das vagas de abertas e criou um storytelling envolvente do começo ao fim da campanha. O grande desfecho foi o momento no qual as pessoas selecionadas para as vagas foram comunicadas que foram aprovadas. Você pode assistir ao vídeo do momento e saber um pouco mais sobre esse caso aqui.